As mulheres não eram vistas como boas dominantes da magia,
pelo menos não o suficiente para liderar o grupo de magos e bruxas Sren Ommus.
Diferente dos grupos mágicos entusiastas do seu tempo, eles acreditavam que o
homem era fonte de força e, portanto, mais propenso a compor a Tríplice Artus:
os três grandes líderes mais poderosos e os mais sábios da Sren Ommus.
As mulheres eram usadas somente em rituais poderosos que
envolviam sangue e pureza, e embora muitas não concordassem com a filosofia do
grupo, abaixavam suas cabeças e seguiam por medo de se descobrirem fracas.
Havia apenas uma mulher que seguia fielmente a filosofia dos Sren Ommus e as
ordens da Tríplice Artus: Aro.
A lenda é antiga, então muitos detalhes foram perdidos ao
longo dos anos. Algumas pessoas dizem que ela fora apaixonada desde pequena por
Artus Heros (os integrantes da tríplice carregavam Artus antes do seu nome, era
uma espécie de pronome de tratamento), outras dizem que ela queria adquirir
seus conhecimentos e se tornar a mulher mais poderosa do grupo. Nunca saberemos
disso com certeza porque a verdade foi esquecida.
Mas uma suposição se mostrou certeira: ela queria se tornar
realmente poderosa. Aro não era aceita pelas mulheres do grupo porque não era
bonita, era muito calada, proferia poucas palavras, tinha o corpo frágil,
adoecia fácil e mesmo com 20 anos ainda não havia tido o seu primeiro
sangramento. Ela era uma mulher inútil pros Sren Ommus. Além disso, parecia não
carregar honra alguma como mulher por nunca questionar a filosofia relacionada
a elas. Nas grandes batalhas ela era quem mais se feria, ficava meses febril e
sem conseguir se mover.
A lenda diz que Heros a tornou sua pupila e, partindo do
princípio de que ela era frágil, ensinou tudo o que uma pessoa fraca poderia
utilizar de magia. Aro se tornou a mulher mais poderosa do grupo e, as mulheres
que antes a tratavam mal, passaram a olhar com respeito e a se sentirem
encorajadas. Mas não todas.
Vendo essa movimentação preocupante e o fato de que as
mulheres começaram a questionar altamente e a se mostrarem contra algumas ordens,
os homens radicais começaram a se sentir ameaçados. Se as coisas continuassem
daquela maneira, Aro poderia se tornar a única mulher capaz de compor a Tríplice
Artus e isso era inaceitável. Havia uma mulher chamada Helve que passara a
invejar Aro, e com a promessa de se tornar a única mulher poderosa da Sren
Ommus ela tentou matar a pupila de Heros.
Mas Artus Heros não ficou impune, afinal, se existia uma
mulher poderosa e que feria todas as regras da Sren Ommus, era culpa dele.
Assim que descobriram quem era o meste da Aro, uma grande batalha começou, um
Artus era um líder e jamais poderia ser traído por seu grupo. Muitos homens
começaram a se questionar se era realmente necessário tentar matar um de seus
líderes, já que era muito mais fácil matar a mulher. Outros acreditavam que já
que uma regra havia sido quebrada, uma mulher poderosa, então outra regra
poderia ser quebrada: lutariam com o Artus.
Todos sabiam que seus poderes não os ajudariam a vencer a
luta, por isso, embebedaram suas lâminas em um puro e letal veneno e com uma
armadura espírita de ódio, lutaram contra seu líder. Essa parte da lenda é
contada de várias maneiras, há quem diga que Helve matou Aro antes que a última
soubesse que Heros estava em perigo, outros dizem que Helve cortou Aro enquanto
essa corria em direção a Heros e que, na esperança de salvá-lo, morreu por ele.
O que se sabe é que ambos, Aro e Heros, faleceram naquela
batalha. E que nenhuma das mulheres conseguiu fazer algo para ajudar. A única
mulher presente fora Helve e ela estava apunhalando todas elas pelas costas. No
trânsito dos mundos, onde não é nem céu e nem inferno, Aro foi questionada se
queria voltar à vida, se queria se vingar, se seria capaz de suportar a
eternidade em busca da vingança sem arrependimentos. E ela disse ‘sim’ para
todas as questões.
O que ela não sabia naquele momento é que tinha interpretado
as coisas da forma errada e que estava sujeita ao sofrimento do erro por toda a
eternidade. Mas não importava, pois ao voltar a vida como uma imortal, seu lado
doce e inocente fora perdido. A única coisa acesa dentro dela era ódio e sede
de vingança por todas as mulheres. Aro Da’covni passara a invocar as mais peçonhentas
e macabras almas abandonadas no plano terrestre para causar o maior terror já
vivido para as mulheres na noite do dia 31 de outubro.